quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Cansei de ser politicamente correto



O brasileiro adora modas! Sempre que aparece alguma moda nova, ele não para pra pensar se essa moda é válida ou não: ele simplesmente a abraça, como um náufrago abraçaria um tronco flutuando no meio do oceano. E a moda, agora, é o politicamente correto. Todos vivem se policiando para não deixar escapar alguma expressão ou atitude que possa ser considerada ‘politicamente incorreta’.
O ‘politicamente correto’ começou como uma tentativa de se evitar algumas atitudes reprováveis, como são os casos de racismo e de homofobia, entre outras. Porém, essa atitude acabou sendo levada ao extremo, ocasionando alguns exageros. Vemos, atualmente, muitas imbecilidades serem praticadas, protegidas pelo rótulo de “politicamente corretas”.
É óbvio que devemos evitar, a todo custo, casos de discriminação e preconceito. Porém, não podemos deixar que isso vire uma obsessão e que passemos a ver ‘discriminação’ e ‘preconceito’ em tudo. Determinadas palavras passaram a ser consideradas pejorativas, e seu uso passa a ser considerado preconceito ou discriminação. A língua passa a ser tratada como vilã, quando está apenas a serviço dos seus falantes.
O que precisamos compreender é que as palavras foram criadas para exprimir estados, impressões e sensações, bem como para designar objetos – reais ou imaginários. Em todas as línguas, encontramos o fenômeno da polissemia, quando uma mesma palavras adquire vários significados, algumas vezes, opostos. Na Língua Portuguesa, várias palavras adquiriram, ao longo do tempo, um sentido pejorativo. É o caso da palavra ‘medíocre’ que, no início, designava algo comum, que estava na média. Atualmente, a palavra tem sido utilizada com o significado de algo ‘ruim’, de ‘má qualidade’.
O mesmo vale para as palavras ‘preto’ e ‘negro’, designando pessoas que, atualmente, estão sendo rotuladas como ‘afrodescendentes’. Tanto negro como preto não são, necessariamente, palavras pejorativas. O sentido que se passou a dar a elas é que as tornaram pejorativas. Substituir estas palavras por ‘afrodescendentes’, a princípio, não altera nada. Uma pessoa racista não deixará de sê-lo apenas porque não pode mais dizer ‘negro’ ou ‘preto’.
O que tem que ser mudada é a mentalidade das pessoas. No Brasil, anos após a escravidão, os negros ainda não foram incorporados à nossa sociedade. Foram libertados para continuarem sendo párias, assim como no tempo da escravidão.
Politicamente correto não é ser proibido de dizer uma palavra, mas dar condição de vida digna a todos os cidadãos do país, sejam eles mulheres, negros ou homossexuais. É considerar todas as pessoas como sendo, realmente, iguais, e não apenas ver isso como um preceito religioso ou uma prescrição da Lei, mas que não tem nenhuma validade. É mudar a mentalidade das pessoas, não por meio de leis – que apenas impedem a manifestação pública do preconceito e da discriminação, mas que não os eliminam realmente –, e sim por meio de uma educação que mereça esse nome (o que não ocorre com a tão propalada “educação” brasileira).
Para alguém preconceituoso, ‘afrodescendente’ passará a ser utilizada como uma palavra pejorativa. E cada nova palavra inventada será utilizada da mesma maneira.
Roland Barthes dizia que a linguagem é fascista. Mas, na verdade, fascistas somos nós, que utilizamos a linguagem para expressar os nossos mais sórdidos sentimentos e ações. Pessoas e grupos que reclamam quando estão sendo oprimidos, passam a oprimir quando têm a oportunidade. Todo mundo tem um pouco de Hitler.
No final das contas, tudo não passa apenas de uma disputa pelo poder. E, nesse caso, voltamos a Barthes, que reconhecia que quase nada estava fora do poder. Nem mesmo a linguagem!   

Nenhum comentário:

Postar um comentário