A Odisseia, escrita pelo poeta grego Homero, tornou-se
um dos poemas épicos mais estudados e difundidos ao longo do tempo, tornando-se
um verdadeiro “clássico” da literatura, tanto em termos de cânone oficial quanto
em termos de importância histórica para se entender a civilização grega e sua
influência na expansão e domínio do Império Romano.
O poema trata do herói grego Ulisses, rei da
pacífica ilha de Ítaca que, de uma hora para outra, se vê obrigado a tomar partido
na guerra entre os gregos e os troianos, devido ao rapto da grega Helena,
mulher do rei Menelau, pelo príncipe Paris, filho do rei de Troia. Terminada a
guerra, Ulisses tenta voltar para Ítaca e para sua esposa, Penélope, mas uma
série de situações sucedem-se, impedindo-o de retornar.
Em todas as situações, mesmo passando por perigos
extremos, capazes de abalar o mais forte e valente dentre os homens, Ulisses
sempre mantém-se calmo e, focalizando o problema em questão, encontra uma forma
de resolvê-lo, livrando-se de uma situação, muitas vezes, mortal. A
inteligência e astúcia de Ulisses sempre salvam seus marinheiros dos perigos
por eles enfrentados.
Este poema épico poderia ser comparado, nos dias
atuais, aos filmes em que o mocinho, valendo-se geralmente de sua bravura e
força – além de armas de alta tecnologia – e, em menor grau, de sua astúcia e
inteligência – excetuando-se o personagem da antiga série de tv, McGyver, que
se valia de sua habilidade e inteligência para construir equipamentos que o
auxiliavam a se livrar de situações de risco –, consegue escapar de todas as
situações perigosas. Entretanto, longe de se constituir apenas em um “filme de
ação” da antiguidade, a Odisseia representa algo que resume a civilização no
seio da qual ela surgiu.
A Grécia antiga sempre foi considerada como o
‘berço’ da civilização ocidental atual. Foi lá que surgiram grandes estudiosos,
sábios e filósofos, tais como Sócrates, Platão, Aristóteles e tantos outros. Aristóteles,
por exemplo, escreveu a Poética, que é considerada como o primeiro tratado de
Teoria da Literatura; a filosofia atual tem suas bases nas escolas filosóficas
gregas. O Império Romano, um dos maiores impérios já existentes, formou-se a
partir de uma imitação dos modelos utilizados pelos gregos. Sua mitologia e
literatura inspiraram-se na mitologia e literatura gregas que, quando o Império
Romano começou a se formar, já se encontravam em seu ápice.
Outra característica da Odisseia é que, ao
contrário de outros poemas que relatavam os feitos de deuses ou semideuses, retratou
os feitos de um homem comum, sem nenhum poder especial ou uma força
sobre-humana, um homem que utilizava apenas a sua inteligência e astúcia e
sabia esperar o momento certo para agir, sem se precipitar devido à pressa ou ao
medo. Ulisses, na verdade, representava o ideal grego, onde a razão era
considerada a força que devia impulsionar os homens. Diante de quaisquer
desafios, mesmo diante daqueles que pareceriam incontornáveis para qualquer
outro homem, Ulisses analisava a situação e, por meio de seu intelecto,
procurava encontrar uma forma de resolver a situação a seu favor. Foi agindo assim
que ele conseguiu vencer todos os desafios, voltar para Ítaca e recuperar seu
trono e sua amada esposa.
Mais do que apenas uma bela história de aventura, a
Odisseia resume o pensamento grego da época. Diante de qualquer adversidade,
mesmo daquelas lançadas pelos próprios deuses, a razão seria a melhor arma para
superar os desafios e sair-se vencedor.
Ulisses foi um herói. Porém, ao invés de ser um herói que realizou
grandes feitos físicos – como Hércules e seus doze trabalhos, por exemplo –, foi
um herói que se valeu da inteligência para alcançar seus objetivos. Mais do que
um homem, Ulisses representa o ideal que os grandes pensadores gregos
pretendiam alcançar.
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