segunda-feira, 1 de julho de 2013

A poesia de Walt Whitman

Walt Whitman é um importante poeta norte-americano que só se tornou mais conhecido no Brasil graças ao filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, que tinha Robin Williams no papel de um professor de literatura americana.
A importância de Walt Whitman, o “poeta da Liberdade”, pode ser vista no poema que Fernando Pessoa, um dos maiores poetas de língua portuguesa, dedicou a ele, por intermédio de um de seus heterônimos mais famosos, Álvaro de Campos. Em sua, “Saudação a Walt Whitman”, Pessoa/Campos escreveu:

“Nunca posso ler os teus versos a fio... Há ali sentir demais... [...]
E cheira-me a suor, a óleos, a atividade humana e mecânica.
Nos teus versos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,
Não sei se o meu lugar real é o mundo ou nos teus versos,
Não sei se estou aqui, de pé sobre a terra natural.”

Um poeta da estatura de Walt Whitman não podia deixar de ter sua obra publicada no Brasil. Porém, somente após 113 anos de sua morte, a Editora Martin Claret publicou a edição completa de “Folhas de Relva”. Uma edição que faz justiça a um dos maiores nomes da poesia norte-americana e – por que não dizer? –, mundial.
Em 1855, Whitman publicou, às suas custas, o que se tornaria a primeira edição de “Folhas de Relva”, compostas por apenas 12 longos poemas. O livro, entretanto, causou estranheza e criou algumas polêmicas, sendo criticado severamente pelos críticos da época.
Assim como ocorria no Brasil, os escritores e poetas pré-Whitman baseavam seus escritos no modelo europeu – no Brasil, essa tentativa de ruptura veio a ocorrer apenas no Modernismo. Whitman inovou, iniciando uma poesia “moderna”, rompendo com a subjugação ao modelo europeu até então utilizado. Foi um poeta inovador na escrita e nos temas abordados. Em seus versos, deu voz a grupos que antes não tinham voz; cantou o cotidiano, a vida simples, a natureza americana, o século em rápida transformação. Cantou também o corpo e o desejo, a sensualidade latente, mas que permanecia oculta sob uma camada de “verniz social”, subordinada às convenções de sua época.
Whitman cantou o seu tempo. Assistiu in loco às diversas mudanças pelas quais passava os Estados Unidos, tais como a Guerra de Secessão e o crescimento industrial e econômico do país em meados do século XIX, mudanças estas que não se refletiam apenas na paisagem, mas também no pensamento e no comportamento das pessoas. Nos seus poemas, Whitman nos mostra estas transformações, o crescimento das cidades, os novos meios de transporte, os bairros pobres que surgem com a industrialização.
Mas Whitman não se limitou a ser, apenas, o poeta do ‘social’. Assim como William Blake, considerado um visionário, por uns, e um louco, por outros, Whitman cantou a exaltação mística. Não essa pretensa exaltação que se vê nas Igrejas, mas sim a comunhão com a natureza, com todas as coisas que existem, num quase paganismo que o faria ser queimado na fogueira da Inquisição, em outra época. Whitman pode ser considerado o que se chama de monista. A diferença entre um monista e um monoteísta é que, para este, existe um único Deus; para aquele, só há Deus. Deus está em tudo, ao mesmo tempo em que transcende a tudo. Para os monistas, esta seria a explicação das palavras de Jesus, quando Ele nos diz que “Eu e o Pai somos um. Eu estou no Pai e o Pai está em Mim, mas o Pai é maior do que Eu”. Este pensamento é reforçado pelo filósofo Espinoza, quando afirma que “Deus é a alma do Universo, e o Universo é o corpo de Deus”.
Nos seus poemas, Whitman exalta essa união do ser humano com a natureza, com o Sol, com o calor e o frio, com os sons e os cheiros do mundo, num êxtase quase místico. Uma verdadeira exaltação à Vida. Para Whitman, ninguém precisa ser um ermitão, morando sozinho em uma montanha isolada, para atingir a comunhão com Deus. Deus está ao nosso redor, está nas árvores, no ar, no Sol, nas pessoas próximas a nós.  
Muitos dizem que Whitman era o poeta das massas e da democracia. Porém, mais do que isso, Whitman era o poeta do Eu, da individualidade perdida na coletividade, mas ainda assim uma individualidade. Um Eu que procurava se destacar da massa anônima confundida no rebanho. Pode-se perceber esta mesma característica nos poemas de Fernando Pessoa, um admirador confesso de Whitman.
Whitman parecia querer “acordar” as pessoas para que elas tivessem consciência dessa individualidade. Em um mundo que estava se tornando automatizado demais, mecânico demais, até mesmo as pessoas começavam a agir de modo mecânico e automatizado. Whitman parecia amar as pessoas, indiferentemente, independente de ser homem ou mulher, adulto ou criança, branco ou preto. Seu monismo latente o fazia ver a todos como irmãos, por isso esse ardor social, democrático, que permeia seus versos. Mais do que um gesto político, seus poemas exaltam essas individualidades ligadas à Unidade.
Para ele, dizer que todos somos iguais, mais do que um aspecto legal ou pieguismo religioso, era a pura verdade.                   


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