Desde sempre,
ouvimos dizer que a escola prepara o aluno para a vida. Ouvimos, também, que o
professor deve incitar o aluno a “pensar criticamente”, a “refletir” e outros
termos correlatos. Mas, será que, na prática, é isso mesmo o que acontece?
As escolas
preparam os alunos para a vida ou os preparam para ingressar em fábricas,
quando terminarem seus estudos? Será que as escolas são apenas imensas agências
de empregos, formando mão-de-obra barata para serem exploradas nas fábricas?
Vamos analisar alguns pontos.
De uns tempos
para cá, temos ouvido, nas escolas, diversos novos termos, tais como gestão,
projeto, distrito, participação. O antigo Diretor virou Gestor; além das
matérias tradicionais, os professores devem criar ‘projetos’ para serem
trabalhados com os alunos; as secretarias de ensino subdividiram-se em
Distritos; alunos ganham pontos por ‘participação’; e por aí vai.
Se pensarmos
bem, todos estes termos vêm do jargão das fábricas e são conhecidos por todos
os empregados – embora alguns deles possam desconhecer-lhes o real significado.
Ou seja, quando o aluno sai da escola e passa a trabalhar em alguma fábrica,
esses termos já não lhe são estranhos. Em Manaus, por exemplo, o aluno irá
trabalhar no Distrito Industrial; as
empresas de duas rodas, de eletrodomésticos ou de informática apresentam projetos com novos produtos a serem
fabricados; há um gestor que irá
supervisionar e organizar os trabalhos; e há quem ganhe um extra de participação nos lucros. Se mudarem o
nome do professor para Chefe, o aluno nem vai perceber quando sair da escola e
entrar em uma fábrica. Aliás, vai sim: nas fábricas ele não terá tanta
liberdade!
Quanto a
“incitar o aluno a pensar criticamente”, será que as escolas realmente fazem
isso? Vou mais além: será que a maioria dos professores pensa de forma crítica?
Se analisarmos a
maioria das aulas – e quem já fez estágio sabe do que estou falando –, com
raríssimas exceções vemos professores tentando fazer os alunos pensar criticamente.
A maioria dá aulas robotizadas, onde o aluno é obrigado a decorar o assunto
para poder utilizá-lo em uma prova objetiva, onde ele terá quatro ou cinco
questões para escolher – muitas vezes, no “chute”.
Além disso,
quando os alunos tentam exercer o tal pensamento crítico, discutindo assuntos
que são do seu interesse, acabam sendo rotulados de desordeiros e coisas do
tipo. Exemplo: em uma escola onde fiz estágio, vários aparelhos de
ar-condicionado não funcionavam. À tarde, as salas ficavam extremamente
quentes, em pleno verão manauara, sem condições para um ensino e um aprendizado
decentes. Um dia, os alunos recusaram-se a assistir às aulas enquanto o
problema não fosse solucionado – e eles já haviam feito algumas solicitações
neste sentido. Foi então que uma professora de Filosofia, que deveria
exatamente procurar despertar esse pensamento crítico nos alunos, disse que
eles queriam apenas “tumultuar”, e que antigamente os colégios não tinham
ar-condicionado e os alunos estudavam do mesmo jeito. Fiquei tentado a
dizer-lhe que, antigamente, também não havia carros e as pessoas andavam a pé.
Será que ela se disporia a deixar seu carro na garagem e vir a pé para a
escola? Antigamente os professores vinham.
As fábricas não
querem “pensadores”. As fábricas querem pessoas com conhecimento suficiente
para entender o processo de produção no qual estão trabalhando. E as escolas
estão, desde há algum tempo, formando apenas mão-de-obra para as nossas
fábricas. Não é à toa que o nível de ensino vem caindo ano após ano – apesar
das propagandas do governo apregoando o contrário. A escola não quer gente que
pensa, quer apenas que os alunos decorem textos e fórmulas e os repitam como se
fossem papagaios, sem atinar com o sentido do que estão dizendo.
Nossos filhos estão sendo preparados para as
fábricas. E, vale lembrar, a palavra proletariado – o operário – vem de prole,
filho. Eram as classes com menos rendimentos que faziam mais filhos – que
depois iriam substituir seus pais nas fábricas.
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