domingo, 3 de junho de 2012

Deus versus Ciência – qual dessas teologias devemos abraçar?


Estava fazendo uma faxina na minha biblioteca quando, ao remexer nos meus alfarrábios, encontrei uma reportagem do caderno ‘Prosa e Verso’, do jornal ‘O Globo’, datado de 11 de agosto de 2007. Esta reportagem, intitulada ‘Entre o delírio e a razão’, comentava o livro “Deus, um delírio”, do biólogo Richard Dawkins. Neste livro, Dawkins tenta destruir a figura de Deus classificando-o, como o próprio título diz, ‘um delírio’. Com seu estilo cáustico, parecendo querer, propositalmente, provocar polêmicas para chamar atenção para sua causa, ele não poupa Deus, as religiões e os seus adeptos. Afirma que as religiões são irracionais, criticando direta e indiretamente seus adeptos. O livro, que pretende atingir os chamados ‘crentes’, usa o subterfúgio de parecer direcionado para as pessoas que não acreditam em Deus. Logo no início do livro, Dawkins escreve: “Sei que você não acredita num senhor barbado sentado numa nuvem, então não percamos mais tempo com isso. Não estou atacando nenhuma versão específica de Deus ou deuses. Estou atacando Deus, todos os deuses, toda e qualquer coisa que seja sobrenatural, que já foi e que ainda será inventada”. Neste pretenso desprezo aos adeptos das diversas religiões, como se não estivesse escrevendo para eles, ele está justamente fazendo o contrário, tentando convencê-las de que seu pensamento é algo completamente ridículo e sem sentido.
Para defender a ciência em detrimento do pensamento religioso, ele critica as religiões por postular que se deve acreditar em seus dogmas e doutrinas sem que se precise de provas, apenas por meio da fé. Completa que esse tipo de atitude é um ‘entrave ao conhecimento científico’ e que incita as pessoas a atos extremos, como é o caso dos terroristas que agem movidos por sentimentos religiosos, destruindo construções e matando pessoas em nome de uma fé cega. Em suma, a religião é algo extremamente pernicioso.
Curiosamente, ele esquece-se de comentar que as armas usadas pelos terroristas – bombas, armas químicas, rifles de longo alcance – são objetos criados pela mesma ciência que ele tanto defende. Nesse caso, poderíamos nos questionar sobre o que seria mais pernicioso: a religião ou a ciência?
A proposta deste artigo não é defender nem um ponto de vista nem outro. Acredito que as pessoas têm o direito de possuir as suas convicções, sejam elas quais forem. Assim como Voltaire, posso não concordar com suas palavras, mas defenderei seu direito de pronunciá-las.
Contudo, não concordo com a proposta do autor de menosprezar aqueles que possuam um pensamento diferente do seu, como se ele fosse o ‘dono da verdade’. Dawkins, ou qualquer outro, tem o direito de defender suas ideias, desde que utilize argumentos sólidos e ideias coerentes para isso, assim como as religiões deveriam fazer o mesmo. Recuso o velho chavão ‘é a vontade de Deus’ que muitos pregadores usam quando não possuem uma resposta coerente para uma pergunta capciosa. Como eles podem saber que essa é, realmente, a vontade de Deus? Mas não acho que se consegue chegar a algum lugar simplesmente ridicularizando as ideias e pensamentos de outras pessoas, muito menos algo sério como suas crenças que, muitas vezes, é a única coisa que elas possuem.
Não podemos esquecer que, se a religião não consegue dar respostas para muitos acontecimentos, a ciência também não consegue. Muitas questões estão sendo debatidas há tempos pelos cientistas sem que se consiga chegar a um consenso, com os cientistas apresentando várias concepções divergentes para um mesmo ponto.
Muitos cientistas acreditam em Deus e reconhecem que a ciência pode aproximar o homem de Deus. Quem poderia dizer que a teoria da seleção natural não foi o processo escolhido por Deus para a evolução de todas as espécies, incluindo o homem?
Um outro ponto que a ciência talvez nunca consiga explicar sem admitir a existência de Deus é a criação do Universo. Em um determinado ponto de uma entrevista que concedeu, Dawkins questiona: “Como criador do universo, surge outro problema: quem teria criado Deus? Ele teria que ter evoluído a partir de algo”. Questão interessante, mas que poderia ser respondida com outra pergunta: ‘quem teria criado o universo? Ele teria que ter evoluído de algo’. Ou Dawkins e seus seguidores são tão pueris a ponto de acreditar que a matéria da qual nosso universo é composto brotou do nada? Não é a própria ciência que tem como um de seus postulados uma frase que diz que ‘na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma’. Nesse caso, a primeira partícula de poeira cósmica teria que ter se transformado a partir de algo, algo material. O que seria isso? Partindo do pressuposto de que a matéria não aparece do nada, ela teria que vir de ‘algum lugar’. Sem Deus, de onde ela teria vindo?
Sempre procurei uma resposta coerente para esta pergunta, mas nem mesmo todos os programas do Discovery Channel ou do National Geographic a que assisti conseguiram me fornecer esta resposta.
Ou seja, acreditar em um ser superior como sendo o criador de tudo o que vemos pode não ser algo tão fantástico assim. A ideia de Deus tem uma certa lógica.
Independente de existir ou não, a ideia de Deus deve ser respeitada. O que não podemos aceitar são as explorações feitas em Seu nome. Pessoas que enriquecem à custa da crença de pessoas pobres, que doam o dinheiro que utilizariam para comprar alimentos para ‘Igrejas’ que pregam a humildade, mas que erguem templos magníficos e cujos ‘pastores’ viajam em carros luxuosos, ostentam jóias caríssimas e vivem viajando para o exterior.
Crer ou não crer? Eis a questão?
Talvez, um dia, a ciência consiga provar, de maneira irrefutável, que Deus não existe. Ou, talvez, pode ser que ela descubra que Deus existe. Até lá, o melhor que temos a fazer é aceitar ideias diferentes e convivermos em paz com pessoas que pensem de maneira diferente de nós.
De pessoas intolerantes, como Dawkins e Bin Laden, a Terra já está cheia.                     

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