quinta-feira, 31 de maio de 2012

Pão, Circo e UFC


Outro dia, vendo um comercial sobre um evento de UFC (Ultimate Fighting Championship), ocorreu-me um pensamento: o homem de hoje, com toda a sua tecnologia e comodidades da vida moderna, é muito diferente dos romanos que iam ao Coliseu para assistir às lutas de gladiadores? Analisando o que acontece modernamente e o que acontecia antigamente, podemos deduzir que a resposta é NÃO!
Os romanos que iam ao Coliseu não o faziam apenas para ver um gladiador derrotar o outro, e sim para ver um gladiador MATAR o outro. O que interessava ali era ver o sangue jorrando do corpo do perdedor. E, se o vencedor também morresse, tanto melhor. Era um bônus! Além disso, havia também a luta entre homens e feras: leões, ursos e tigres enfrentavam gladiadores armados e, muitas vezes, as feras eram colocadas para lutarem entre si. O gladiador tinha que matar a fera ou ser morto por ela. De qualquer forma, independente de a luta ser entre dois homens ou entre um homem e uma fera, ela só acabava com a morte de uma das partes.
O que temos atualmente não é um cenário muito diferente. Os modernos gladiadores já não usam lanças, espadas, escudos ou redes, e sim luvas. Mas, tirando esta diferença, o resto não é muito diferente. A ‘torcida’ que comparece a estes eventos ou que o assiste pela televisão quer apenas uma coisa: ver sangue! Igual aos romanos que iam ao Coliseu querendo ver a morte de um dos gladiadores. Morte que, eventualmente, acontece. Não é raro em torneios de artes marciais – nos quais o UFC e o boxe estão incluídos – presenciarmos a morte de um dos lutadores. Apesar de todas as regras e normas de segurança existentes nestes torneios, a ocorrência de mortes não é algo impossível.
A torcida destes eventos começa a se agitar quando os lutadores do evento principal estão para entrar no ringue ou octógono – como acontecia antigamente, quando ocorriam lutas entre gladiadores menos ‘famosos’ antes da entrada dos lutadores principais. Quando eles começam a se esmurrar, a torcida delira, esperando o nocaute de algum deles e extasiada pelo sangue que começa a manchar o chão – muitas vezes na cor branca, para aparecer melhor as manchas de sangue. Os lutadores de UFC e de boxe são admirados como o eram os antigos gladiadores.
Mas, pelo menos, acabaram-se com as lutas entre feras e entre homens e animais, alguém pode dizer. Não, não acabaram. Temos, ainda hoje, rinhas clandestinas de lutas de galos e de lutas de cães. Os famosos cães pit-bulls foram desenvolvidos para enfrentarem touros. A própria tourada, muito apreciada na Espanha e em outros países, não deixa de ser uma luta entre um homem e uma fera. Em alguns eventos, o toureiro mata o touro cravando-lhes diversas espadas. Entretanto, às vezes o touro se vinga e acerta o toureiro.
Com toda a ‘modernidade’ da qual tanto ouvimos falar atualmente, ainda continuamos presos a certos comportamentos ancestrais. Chamamos os povos antigos de bárbaros, sanguinários, atrasados. Porém, acabamos por imitar-lhes as atitudes, agindo exatamente como eles agiam em diversas situações.
Os Imperadores romanos perceberam que o povo queria apenas pão, circo e gladiadores, e dava isso para eles. Atualmente, as pessoas continuam querendo pão e esportes violentos. O UFC, sem trocadilhos, caiu como uma luva.
Contudo, existe uma diferença entre os romanos e os homens modernos: eles tinham que se dirigir até o Coliseu para assistir às lutas, nós temos a comodidade de assisti-las pelo pay-per-view.      

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