terça-feira, 29 de maio de 2012

É preciso ficar nu para protestar?


Temos presenciado, ultimamente, pessoas fazerem vários protestos motivados pelas mais diversas questões. Protestos contra políticos, contra medidas presidenciais, contra o desmatamento, contra a poluição, contra a violência. Pessoas protestam contra o aquecimento global, contra a produção de armas nucleares, contra a crueldade contra animais. Até aí, nada de mais. É um direito de todos os cidadãos protestar contra algo que não lhes agrade, desde que esse protesto se verifique de maneira ordenada, sem violência e baseado em argumentos plausíveis. Porém, um fato estranho que vem ocorrendo durante os protestos é o fato de as pessoas o fazerem nuas. Será que é preciso ficar nu para protestar?
Recentemente, na Ucrânia, torcedoras que estavam protestando contra a realização da Eurocopa, que será realizada em conjunto pela Ucrânia e Polônia, tentaram pegar a taça da competição, invadindo o local seminuas. Um pouco mais perto do nosso quintal, estudantes da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, realizaram um protesto em que algumas estudantes tiraram suas blusas, exibindo os seios. Além disso, algumas delas – a maioria, pelo que pude ver nas fotos – cobriram suas cabeças com as tais blusas que deveriam estar cobrindo seus seios.
Quero deixar bem claro que não sou puritano e nem estou aqui defendendo algum tipo de moral e bons costumes defendidos na época de nossos avós. Porém, não consegui ainda ver a conexão que existe entre alguns protestos e ficar nu. Se alguém estivesse defendendo a manutenção de uma praia de nudismo que tivesse sido fechada pelas autoridades, tudo bem, o ficar nu teria alguma relação com o protesto. Mas, em outros casos, não há uma conexão entre o protesto e o ato de ficar nu. Se reclamam da educação, ficam nus; se reclamam do preço da gasolina, ficam nus; se reclamam do desmatamento, ficam nus; se reclamam da poluição, ficam nus.
O que parece é que, como disse um amigo meu, há um desejo reprimido que é extravasado por ocasião de um protesto. As pessoas querem ficar nuas e usam os protestos como a ocasião ideal para isso. E, no final, as cenas de nudez chamam mais atenção do que o protesto em si, que acaba ficando em segundo plano.
No caso das estudantes da UFAM, o fato de ainda cobrirem o rosto nos leva a considerar outras questões. Quando vemos alguém cobrindo o rosto, é porque esse alguém está praticando algum ato repreensível, segundo o padrão social ou as leis. Se um torcedor de futebol, por exemplo, quer começar uma briga em um estádio – o que ele sabe ser errado –, cobre o rosto para não ser reconhecido pelas câmeras e punido. O mesmo ocorre com um ladrão que cobre o rosto antes de praticar um assalto. Ou seja, cobre o rosto por estar fazendo algo que ele sabe ser errado.
As garotas da UFAM cobriram o rosto por vergonha ou por estarem realizando um protesto que elas sabiam ser errado? Se era vergonha, a solução era simples: era só não terem tirado suas blusas; se o protesto não tinha sentido, era só não participarem dele. Ao tirarem a roupa e cobrirem o rosto, a meu ver, tiraram toda a credibilidade que o protesto possuía, portando-se como marginais que cobrem o rosto para praticar um crime e não serem reconhecidos.
Além disso, ficarem com os seios expostos não ajudaria em nada o protesto. Existem formas mais inteligentes de se chamar atenção para uma causa importante.      
  
 

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