quinta-feira, 3 de maio de 2012

Um tesouro a ser descoberto


A literatura e o cinema estão repletos de livros e filmes sobre tesouros escondidos que, de uma forma inesperada, às vezes, ou após várias peripécias, acabam sendo descobertos. Na literatura, um destes tesouros ainda está por ser descoberto. Trata-se do escritor português Antônio Patrício, falecido em 1930 e dono de uma obra numericamente pequena, mas imensa sob o ponto de vista literário.
O escritor publicou um livro de poesias, em 1905, intitulado “Oceano”; um livro de contos, em 1910, intitulado “Serão Inquieto”; e quatro peças teatrais: O Fim (1909); Pedro, o Cru (1918); Dinis e Isabel (1919); e D. João e a Máscara (1924). Após a sua morte, foi publicado um livro de poesias, intitulado “Poesias”, em 1942.
Os poemas de Patrício, autor inserido no simbolismo-decadentismo, tratam de temas muito caros ao povo português, tais como o mar, as viagens e a saudade, por exemplo, temas ligados ao período glorioso da história portuguesa e que foi cantado em prosa e verso por vários autores, entre eles, Camões, o bardo da literatura portuguesa e o seu imortal “Os Lusíadas”.
No teatro, Patrício resgata personagens e temas da História de Portugal, trabalhando os mitos que cercaram estes personagens e que se misturam com a História propriamente dita. É o caso da Rainha Santa, Isabel, e o episódio de Inês de Castro, que se tornou rainha após a sua morte. 
O livro “Serão Inquieto” nos traz apenas seis contos, contos estes construídos de forma poética, podendo-se dizer que são prosa apenas na estética. São textos que nos falam de amor e de morte. Aliás, amor e morte confundem-se nos textos de Patrício, um parecendo precisar do outro para existir e se manifestar. O conto “Suze”, por exemplo, é uma comovente elegia, um hino ao amor. Um amor que vai sendo construído junto com o próprio conto, um amor interrompido pela morte. Aliás, no conto, tanto o amor quanto a morte, além de estarem ligados ao destino dos dois personagens, são construções que surgem com o desenrolar da história. Tanto o amor quanto a morte são presumidos pelo narrador em face do desaparecimento do objeto amado. O que o move, mais do que o amor, é a saudade, saudade do que possuía e que parece ter perdido.
A saudade permeia a obra de Patrício. Saudade do ser amado ou do passado glorioso de Portugal. O passado é o grande personagem dos seus textos, um tesouro ainda a ser descoberto pelo público brasileiro.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário