sexta-feira, 11 de maio de 2012

O desabrochar de uma Violeta Branca

A poesia brasileira sempre foi fértil em nos presentear com grandes talentos ao longo do tempo. E, entre esses talentos, as mulheres, talvez por sua maior sensibilidade, sempre brilharam no cenário poético nacional. Poetisas como Cecília Meireles e Cora Coralina, entre tantas outras, nos brindaram com páginas de pura sensibilidade e beleza. Em um cenário geralmente dominado pelos homens, algumas mulheres brotaram como flores raras.
Uma dessas flores é uma poetisa que hoje é desconhecida até mesmo de seus conterrâneos: trata-se de Violeta Branca que, assim como a exótica Vitória-Régia, brotou das paragens amazônicas para exalar seu inquieto perfume, desfazendo os miasmas que impregnavam a produção cultural de Manaus na década de 30.
Violeta Branca foi uma transgressora em uma sociedade conservadora e provinciana. Seus poemas denunciavam e criticavam essa sociedade quando dizia que

O que me rodeia
Já não me encanta!

Seu primeiro livro, “Ritmos de Inquieta Alegria”, já no título nos mostra o caminho que ela nos convida a trilhar. Ela não nos convida para um plácido passeio, e sim para uma inquieta caminhada pela cidade e por nós mesmos, em uma

(...) exaustiva viagem
Sem calmaria e repouso.

Violeta Branca publicou o livro “Ritmos de Inquieta Alegria” em 1935, quando contava 20 anos de idade. No Brasil, o Modernismo já havia ganhado adeptos e deixara de ser visto como algo estranho e como uma espécie de não-arte. No Amazonas, entretanto, o Parnasianismo e o Romantismo ainda vigoravam com uma certa força, influenciando leitores e autores.
Remando contra a maré, Violeta Branca desabrochou exalando um perfume novo, que inebriava com o olor da novidade contra a mesmice e a rigidez da época. Nos seus poemas, Violeta Branca rompeu com o formalismo, renunciando ao rigor da metrificação tradicional e utilizando-se de uma linguagem simples, o que a aproxima da primeira fase do modernismo.
Sua poesia é repleta de sensualismo, expondo os desejos femininos e sua ânsia por liberdade em uma sociedade castradora, principalmente em relação às mulheres. Sua proposta, de expressar os desejos e paixões femininas, foi de uma extrema ousadia para as condições da época. Sua intensidade nos remete à força e ardência que encontramos em Cecília Meireles, como vemos no “Poema das tuas mãos”:

Tuas mãos imperiosas,
Tuas mãos rebeldes,
Cantam silenciosas aleluias de gestos,
Quando compõem poemas de volúpia,
Gritos incontidos de alegria pagã,
Correndo ligeiras
         Leves,
         Toturantes,
         No teclado branco de meu corpo...

Também encontramos em sua obra uma forte tendência ao regionalismo, como podemos verificar em passagens como

Nos poemas que ora escrevo
Não há, como outrora,
A suavidade de um enlevo...
São ardentes, tropicais:
Têm o cheirovde terra molhada
E o gosto das frutas maduras...

Violeta Branca foi uma voz dissonante que, ao casar-se e mudar-se para o Rio de Janeiro, onde veio a falecer em 7 de outubro de 2000, aos 85 anos, fechou-se durante algum tempo até que, em 1982, publicou seu segundo e último livro, “Reencontro: poemas de ontem e de hoje”. Sua inquieta e transgressora alegria ainda está no ar, nos incitando a uma viagem onde

Transformei-me em onda,
Para embalar no ritmo diferente
A galera inquieta e sem rumo
Do teu esquisito destino de marujo.

O destino de um marujo que, assim como os poemas de Violeta Branca, nos levam a uma viagem repleta de descobertas.    
               

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