sábado, 12 de janeiro de 2013

O fascismo da linguagem



Em seu livro ‘Aula’, Roland Barthes escreveu que não há linguagem fora do Poder, e que a língua não é reacionária nem progressista, e sim fascista: porque o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer.
Atualmente, mesmo sob um sutil e tênue discurso – e disfarce – de liberdade e democracia, temos visto o fascismo da língua imperando nos mais diversos setores de nossa sociedade. E é um fascismo pior do que o citado por Barthes, pois este, além de nos “obrigar a dizer”, também nos “impede de dizer”. Esse fascismo tem respondido pelo nome de “Politicamente Correto”.
Lembro de um episódio ocorrido com a presidente Dilma, quando ela foi vaiada durante um discurso simplesmente porque disse ‘portadores de necessidades especiais’ ao invés de ‘pessoas com necessidades especiais’. Da mesma forma, um jovem delinquente que, a despeito da idade precoce, não passa de um ladrão, assassino ou estuprador – ou uma combinação dos três, em alguns casos –, não pode mais ser ‘preso’, e sim ‘apreendido’, como se o ato em si não fosse a mesma coisa – com a diferença que o jovem delinquente brevemente será solto para continuar assaltando, assassinando e estuprando, por ser considerado incapaz de responder pelos seus atos, embora seja suficientemente capaz de praticá-los.
A nossa sociedade, escondida atrás de uma bandeira democrática, está na verdade tornando-se uma sociedade autoritária e fascista. As pessoas estão perdendo o direito de terem ideias próprias, sendo obrigadas a aceitar as ideias que são impostas pela sociedade como se estas fossem ‘verdades supremas’ que não podem ser questionadas.
Apropriando-me das ideias de Roland Barthes, posso dizer que as funções da literatura são: mathesis, mimesis e semiosis. Deixando a primeira e a última de lado, poderíamos dizer que mimesis seria uma ‘imitação’ da realidade – ou, como preferem alguns, representação. Em alguns casos, a literatura se antecipa à realidade, tornando-se um tanto visionária, e antecipando situações que ainda não ocorreram. Para ficar em apenas dois exemplos, cito os livros ‘1984’, de George Orwell; e ‘Admirável mundo novo’, de Aldous Huxley. Ambos os autores escreveram sobre sociedades autoritárias, que obrigavam as pessoas a agir de acordo com o que ela considerava “melhor” para as pessoas, evitando que estas mesmas pessoas pensassem e raciocinassem sobre o que estavam fazendo. O pensamento livre era suprimido por uma aceitação passiva do que lhes era imposto pelo Governo. Ninguém dizia o que pensava – pois, na verdade, ninguém pensava –, apenas repetiam o que lhes era ensinado a dizer.
Hoje, quando vejo pessoas querendo banir os livros de Monteiro Lobato das escolas, por acusação de racismo – quando este conceito não existia, na época em que ele escreveu suas histórias –, e quando vejo pessoas querendo alterar grandes livros da nossa literatura, utilizando os mesmos argumentos sobre racismo ou homofobia, por exemplo, lembro-me da manipulação feita na História, utilizada pelo governo fascista do Big Brother, no livro ‘1984’, no qual funcionários modificavam fatos históricos para favorecer o governo autoritário.
É o que está sendo sutilmente sugerido pelo ‘politicamente correto’: alterar nossa história, esquecer fatos relevantes do passado para forjar um futuro baseado na falsidade.
O Big Brother já está aí, nos observando e manipulando como se fôssemos gado sendo tocado, obedientemente, em direção ao matadouro.
Ao matadouro da nossa inteligência, da nossa razão e do nosso livre-pensamento. 

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