terça-feira, 26 de março de 2013

O poder das mulheres em “Crônicas de Gelo e Fogo”

A série “Crônicas de Gelo e Fogo” trata sobre as questões do Poder. Os homens lutam, aliam-se, traem, mentem, lutam e morrem buscando adquirir mais poder. Eu disse ‘os homens’?
Nesta série, num período em que as mulheres não têm voz, sendo utilizadas como moeda de troca por meio do casamento, por exemplo, para forjar alianças entre Casas nobres, as mulheres mostram-se muito mais poderosas do que se poderia imaginar.
A rainha Cersei, por exemplo. Seu pai, Lorde Tywin, a casou com o rei Robert Baratheon após este subir ao trono, esperando, com esta aliança, aumentar o poder de sua Casa. De esposa submissa ao autoritário, promíscuo e bêbado rei, Cersei transformou-se em uma leoa – o símbolo de sua casa é um leão – e resolveu conquistar o poder para si. Usando seus encantos femininos, tramou a morte de Robert, eliminou perigos em potencial, como é o caso das ex-Mãos do Rei, Jon Arryn e Eddard Stark, e governou o reino, de fato, enquanto os reis de direito, Joffrey e depois Tommen, ambos crianças, ocupavam-se de situações menores. Isolou-se de todos enquanto perseguia seu sonho de poder, querendo tornar-se Rainha de Westeros e governar sozinha. Fria e calculista, não se detém diante de qualquer obstáculo, tentando removê-lo de qualquer jeito, mesmo que o custo para isso seja o assassinato e a traição.  
Sansa Stark, a submissa e tímida filha de Lorde Stark, que apenas sonhava em casar-se com o rei Joffrey e viver uma vida conforme as canções sobre cavaleiros, sobreviveu à morte do pai, de sua guarda doméstica, de sua loba, Lady, e ao sumiço de sua irmã, Arya. Suportou os maus tratos do rei Joffrey e depois fugiu, auxiliada por um bobo, e foi parar nas mãos de Mindinho, o Mestre da Moeda, adaptando-se à nova situação fingindo ser sua filha bastarda, Alayne. De tímida e sonhadora, Sansa aprendeu a fingir submissão e a ser dissimulada, para poder sobreviver ao jogo dos tronos.
Arya Stark, a filha mais nova de Lorde Eddard, sempre se mostrou rebelde com sua condição feminina, que a obrigava a se manter submissa aos desejos dos homens. Optou pela espada, ao invés da agulha de tricô, agindo mais como um guerreiro do que como a dama que deveria ser. Após a morte do pai, conseguiu fugir de Porto Real e acabou vivendo grandes aventuras, escondendo seu nome nobre e, até mesmo, sua condição feminina – Arya passou por menino em algumas situações. Sozinha, acabou indo até a longínqua cidade de Bravos. Teimosa e obstinada, não se dobra facilmente a quem quer que seja, e chega até mesmo a matar, caso isso se mostre necessário para a sua sobrevivência.



Neste ponto, Arya Stark assemelha-se a Brienne, a chamada Donzela de Tarth. Alta, larga de ombros e forte demais para uma mulher, Brienne escolheu agir como um cavaleiro, chegando até mesmo a fazer parte da Guarda Arco-Íris, do Rei Renly Baratheon, e sendo confundida com um guerreiro, na maioria das vezes. Obstinada, mantém-se firme na promessa que fez a Catelyn Stark de encontrar sua filha Sansa e levá-la são e salvo para casa.
Daenerys, a herdeira da Casa Targaryen, os antigos reis de Westeros, era apenas uma garota tímida e submissa aos desejos do irmão, Viserys, o herdeiro do Trono de Ferro. Com a morte do irmão e do marido, Khal Drogo, Daenerys herdou seu khalasar e, com força de vontade e astúcia, começou a montar seu próprio exército, iniciando pelo resto do khalasar de seu ex-marido, que se manteve fiel a ela após a morte de Dhrogo, e comprando eunucos escravos que eram treinados como guerreiros, os Imaculados, além de contratar forças mercenárias. Perdeu sua inocência e aprendeu a governar, com o intuito de reclamar para si o Trono de Ferro, à força, se preciso.
Vemos, também, a figura da senhora Melisandre, a misteriosa sacerdotisa vermelha, adoradora do deus R’hllor, o Senhor da Luz. Melisandre consegue o apoio da esposa de Stannis Baratheon, o herdeiro legítimo do Trono de Ferro, e acaba se tornando muito influente junto ao rei. Com seus poderes e suas visões, aconselha Stannis com uma influência tão grande quanto sua Mão, o ex-contrabandista Davos Seaworth. Onde quer que vá, Melisandre estende sua influência, quer seja na corte de Stannis, quer seja na Muralha, com a Patrulha da Noite. Em muitos casos, Melisandre age à revelia do rei Stannis, atendendo a seus próprios desígnios.   
Em um mundo machista e patriarcal, as mulheres vão traçando seu caminho para adquirir poder, tendo de recorrer à astúcia e dissimulação e, não raro, utilizando-se de seus encantos femininos para dobrar os homens a sua vontade, enquanto fazem com que os homens pensem que eles é que estão realmente no comando.
Neste ponto, “Crônicas de Gelo e Fogo” traça um retrato da mulher atual, ainda tentando se firmar em um mundo machista e tentando encontrar seu lugar em uma sociedade patriarcal que não quer abrir mão de seus privilégios. 

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