segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Maracá é nosso!!! – Nosso, de quem?


Na tarde do último Sábado, o Maracanã passou por um evento-teste. Foi realizado um jogo entre “Amigos do Ronaldo” X “Amigos do Bebeto” (leia-se, Amigos do Comitê Organizador da Copa ou, mais simplesmente, Amigos do Marin). O evento não foi aberto ao público, contando apenas com os operários que participaram da (re)construção do estádio, além dos seus familiares.
Antes do jogo, ouviu-se o indefectível “o Maraca é nosso”, gritado pelos já referidos operários e seus familiares. “O Maraca é nosso!!!”, gritaram os artistas que participaram do evento. Mas, ‘nosso’, de quem.
Desde antes da reforma já se havia acabado com a ‘geral’ do Maracanã, local onde se reuniam as pessoas que possuíam renda mais baixa e não tinham condições de pagar por uma arquibancada. Resumindo: a geral era o local dos ‘pobres’. Com a sua extinção, e o aumento nos preços dos ingressos, deu-se início a um processo de esvaziamento dos estádios (não só do Maracanã), ocasionado pela ‘elitização’ do público. Porém, um público ‘elitizado’ é o mesmo público que pode pagar por um canal pay-per-view e assistir aos jogos comodamente em casa, sem precisar ir ao estádio.
Além disso, com a privatização do Maracanã – ou, seria melhor dizer, com a eikização do Maracanã – o público de baixa renda será ainda mais afastado do estádio. Na Copa do Mundo, os ingressos mais baratos não deverão ter um preço inferior a mil reais (e isso para assistir a um ‘clássico’ entre Congo X Emirados Árabes Unidos, por exemplo), o que afastará as pessoas de baixa renda. Mesmo em jogos do Carioca e do Brasileirão, não é qualquer um que poderá desembolsar sessenta ou oitenta reais para assistir a um jogo. Assim, talvez essa seja a última vez em que esses operários entrem no Maracanã para assistir a um jogo (podem entrar, novamente, para realizar uma nova reforma).  
Será que o Maraca, realmente, ainda é nosso?
O que me admira, também, é ver tantos artistas (uma classe que sempre esteve atuante em vários momentos críticos da nossa História, como o período da Ditadura e o movimento das ‘Diretas Já’, por exemplo) participando deste evento e ainda gritando ‘slogans’, como o já citado “o Maraca é nosso”. Só faltou alguém gritar “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
Nesse momento, nossos artistas deveriam questionar os bilhões de reais gastos na ‘reforma’ do estádio; questionar o legado que, dizem, ficará após a Copa; questionar a tão falada ‘mobilidade urbana’, que a gente não vê, de fato; questionar os elefantes brancos que estão sendo construídos; questionar a corrupção que grassa na nossa política e na CBF; questionar as relações do presidente da CBF com a ditadura militar.
Não é só o Maraca que está deixando de ser nosso. O futebol brasileiro está deixando de ser nosso para pertencer a uma organização que visa apenas obter lucro com jogos da seleção e dos campeonatos por ela patrocinados. O público brasileiro perdeu o vínculo que possuía com a seleção. E isso tudo se reflete nos públicos ridículos que vemos em campeonatos estaduais importantes e, até mesmo, no Campeonato Brasileiro.
Por sinal, houve uma manifestação próxima ao Maracanã, manifestação esta que foi reprimida com uso de gás lacrimogêneo por parte da polícia, segundo informações. Isso porque os governos municipal, estadual e, principalmente, federal, querem dar a impressão de que todos os brasileiros estão entusiasmadíssimos com a realização da Copa do Mundo no Brasil, e não estão preocupados com a farra que está sendo feita com o dinheiro público – o nosso dinheiro. E, de fato, a maioria da população não está.
Só lembrando que, quando anunciou que a Copa do Mundo seria no Brasil, o então presidente Lula disse que apenas as obras de mobilidade urbana seriam custeadas pelo governo, enquanto os estádios seriam todos bancados com dinheiro privado. Coisa que, obviamente, não aconteceu, e mesmo estádios particulares estão sendo bancados com dinheiro público.
O Maraca pode até não ser nosso. Mas o dinheiro é!       

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