Na tarde do último Sábado, o
Maracanã passou por um evento-teste. Foi realizado um jogo entre “Amigos do
Ronaldo” X “Amigos do Bebeto” (leia-se, Amigos do Comitê Organizador da Copa
ou, mais simplesmente, Amigos do Marin). O evento não foi aberto ao público,
contando apenas com os operários que participaram da (re)construção do estádio,
além dos seus familiares.
Antes do jogo, ouviu-se o
indefectível “o Maraca é nosso”, gritado pelos já referidos operários e seus
familiares. “O Maraca é nosso!!!”, gritaram os artistas que participaram do
evento. Mas, ‘nosso’, de quem.
Desde antes da reforma já se havia
acabado com a ‘geral’ do Maracanã, local onde se reuniam as pessoas que
possuíam renda mais baixa e não tinham condições de pagar por uma arquibancada.
Resumindo: a geral era o local dos ‘pobres’. Com a sua extinção, e o aumento
nos preços dos ingressos, deu-se início a um processo de esvaziamento dos
estádios (não só do Maracanã), ocasionado pela ‘elitização’ do público. Porém,
um público ‘elitizado’ é o mesmo público que pode pagar por um canal
pay-per-view e assistir aos jogos comodamente em casa, sem precisar ir ao
estádio.
Além disso, com a privatização do
Maracanã – ou, seria melhor dizer, com a eikização do Maracanã – o público de
baixa renda será ainda mais afastado do estádio. Na Copa do Mundo, os ingressos
mais baratos não deverão ter um preço inferior a mil reais (e isso para
assistir a um ‘clássico’ entre Congo X Emirados Árabes Unidos, por exemplo), o
que afastará as pessoas de baixa renda. Mesmo em jogos do Carioca e do
Brasileirão, não é qualquer um que poderá desembolsar sessenta ou oitenta reais
para assistir a um jogo. Assim, talvez essa seja a última vez em que esses
operários entrem no Maracanã para assistir a um jogo (podem entrar, novamente,
para realizar uma nova reforma).
Será que o Maraca, realmente, ainda
é nosso?
O que me admira, também, é ver
tantos artistas (uma classe que sempre esteve atuante em vários momentos
críticos da nossa História, como o período da Ditadura e o movimento das
‘Diretas Já’, por exemplo) participando deste evento e ainda gritando
‘slogans’, como o já citado “o Maraca é nosso”. Só faltou alguém gritar
“Brasil: ame-o ou deixe-o”.
Nesse momento, nossos artistas
deveriam questionar os bilhões de reais gastos na ‘reforma’ do estádio;
questionar o legado que, dizem, ficará após a Copa; questionar a tão falada
‘mobilidade urbana’, que a gente não vê, de fato; questionar os elefantes
brancos que estão sendo construídos; questionar a corrupção que grassa na nossa
política e na CBF; questionar as relações do presidente da CBF com a ditadura
militar.
Não é só o Maraca que está
deixando de ser nosso. O futebol brasileiro está deixando de ser nosso para
pertencer a uma organização que visa apenas obter lucro com jogos da seleção e
dos campeonatos por ela patrocinados. O público brasileiro perdeu o vínculo que
possuía com a seleção. E isso tudo se reflete nos públicos ridículos que vemos
em campeonatos estaduais importantes e, até mesmo, no Campeonato Brasileiro.
Por sinal, houve uma manifestação
próxima ao Maracanã, manifestação esta que foi reprimida com uso de gás
lacrimogêneo por parte da polícia, segundo informações. Isso porque os governos
municipal, estadual e, principalmente, federal, querem dar a impressão de que
todos os brasileiros estão entusiasmadíssimos com a realização da Copa do Mundo
no Brasil, e não estão preocupados com a farra que está sendo feita com o
dinheiro público – o nosso dinheiro. E, de fato, a maioria da população não
está.
Só lembrando que, quando anunciou
que a Copa do Mundo seria no Brasil, o então presidente Lula disse que apenas
as obras de mobilidade urbana seriam custeadas pelo governo, enquanto os
estádios seriam todos bancados com dinheiro privado. Coisa que, obviamente, não
aconteceu, e mesmo estádios particulares estão sendo bancados com dinheiro
público.
O Maraca pode até não ser nosso.
Mas o dinheiro é!
Nenhum comentário:
Postar um comentário