sexta-feira, 14 de junho de 2013

Camões, Lusíadas e o pessimismo do “Velho do Restelo”

A confusão que reina na política brasileira atingiu proporções “épicas”, invocando até mesmo Luís de Camões, o maior poeta português, para a troca de insultos que geralmente ocorre entre os parlamentares.
Tentando rebater algumas críticas recebidas, a presidente Dilma Roussef resolveu apelar para o épico camoniano e chamou as pessoas que a criticam e ao seu governo de “Velho do Restelo”, personagem d’Os Lusíadas reconhecido pelo seu “pessimismo”. No épico de Camões, a figura do Velho do Restelo alerta Vasco da Gama e seus marujos sobre a sua ambição por glória e poder, prevendo o futuro desastroso e decadente que estava por vir. Por sinal, já virou um hábito da presidente rotular as pessoas que criticam os erros de seu governo como “pessimistas de plantão”.
Aécio Neves, senador pelo PSDB-MG, criticou a presidente dizendo que “não serão ataques fortuitos e fora do tom à oposição que vão permitir que a inflação volte ao controle. Muita serenidade nessa hora. Que a queda nas pesquisas não afete o humor da presidente. Ela tem que planejar o país, o que não foi feito até agora”.
O senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, líder do PSDB, ironizou a presidente ao dizer que Dilma está “longe” de ser um Vasco da Gama, referindo-se ao navegador português, personagem do épico de Camões.
Porém, épica mesmo têm sido as confusões que vemos diariamente na política brasileira. A presidente Dilma, por exemplo, tenta nos passar uma imagem da Copa do Mundo como sendo “uma festa”, o que tem sido corroborado por algumas empresas que anunciarão seus produtos durante a Copa. Para “eles”, realmente será “uma festa”. Contudo, quando alguém questiona os abusos e desmandos que vêm ocorrendo durante a preparação para a Copa – estádios superfaturados, estádios inaugurados antes de terem suas obras finalizadas, etc. –, são tratados pela presidente como sendo “pessimista”.
Questionar o que vem sendo feito de “errado” no país, seja na preparação para a Copa ou não, não é pessimismo: é se importar com o péssimo emprego do nosso dinheiro, que poderia ser usado de forma mais eficiente em obras realmente importantes para a população. O famoso “legado” que os defensores da Copa dizem que ficará é algo totalmente incerto. Na África do Sul, muitos dos estádios que foram construídos para a Copa de 2010 estão, atualmente, praticamente sem uso, e já se fala até em demolir alguns deles, por terem uma manutenção cara e não apresentarem nenhuma utilidade prática. Em termos sociais, o ganho para o povo foi mínimo, não se observando obras de relevância para a melhoria das condições de vida da população. O país continua pobre, com uma educação e uma saúde deficitárias. O mesmo discurso utilizado para justificar a Copa da África do Sul está sendo repetido no Brasil e, provavelmente, veremos um pós-Copa igual ao que ocorreu no país africano. Ou alguém realmente acredita que o transporte, a saúde e a segurança, por exemplo, vão melhorar?

Nesta guerra de palavras entre os adversários políticos quem sai perdendo é o povo. Além disso, seria bom que a presidente Dilma se lembrasse que o Velho do Restelo, citado por ela, era um homem simples do povo, povo este que foi afetado pelas ações de Vasco da Gama e de outros navegadores portugueses. E seria bom que ela se lembrasse, também, que os vaticínios “pessimistas” feitos pelo Velho do Restelo se mostraram verdadeiros no futuro.         

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