A onda de protestos que têm ocorrido em várias
cidades do Brasil, cujos manifestantes protestam contra aumentos de passagens
nos transportes e sobre os gastos faraônicos que vêm ocorrendo por conta da
Copa de 2014, é legítima. Se a Copa no Brasil irá deixar um legado, talvez seja
o de ter servido para “acordar” o povo para os desmandos e excesso de corrupção
que vêm ocorrendo no Brasil há muito tempo, mas que agora parece ter atingido
um nível tão alto que o povo resolveu dar um basta. Sou a favor dos protestos
pacíficos, e até postei um texto contra a truculência da polícia em algumas
manifestações.
Porém, não podemos ficar apenas aplaudindo os
manifestantes sem refletir sobre a situação que vem ocorrendo. Várias situações
se apresentam, e nem sempre as pessoas conseguem perceber todas elas. E, em
alguns casos, os manifestantes passam a ser marionetes de interesses que não
conseguem perceber.
Uma das coisas que não podemos deixar de perceber é
o caráter político destas manifestações “espontâneas” e “populares”. O grande
número de bandeiras de partidos políticos é um indicativo de que, se não foram
organizadas pelos partidos, estes, pelo menos, querem se aproveitar das
manifestações para “aparecer”. As manifestações são o palco perfeito para que
alguns partidos lancem as bases de suas futuras campanhas políticas. A
violência policial, com certeza, será explorada à exaustão nas campanhas das
próximas eleições.
Outro fato que salta aos olhos é o despreparo da
nossa polícia para lidar com multidões. Protegidos por roupas especiais e
utilizando armas, nossos policiais agem como verdadeiros “rambos”, ‘baixando o
cacete’ em qualquer um que apareça na sua frente. Os policiais são treinados
apenas para bater, não possuindo a mínima técnica para dispersar multidões sem
que seja preciso ferir alguém. E são esses mesmos policiais que irão defender
os turistas que virão para o Brasil, aos milhares, durante a Copa do Mundo.
Também não podemos deixar de falar sobre o
comportamento dos nossos manifestantes. Reitero, aqui, que considero toda
manifestação pacífica como sendo legítima. A população tem o direito de opinar
e, já que não sabemos fazer isso nas urnas, tentamos fazer nas manifestações.
Porém, é inegável que muitos dos manifestantes, sejam por quais motivos forem –
defesa de interesses políticos e particulares ou simplesmente por puro
vandalismo –, estão lá apenas para causar confusão. Várias manifestações que
começaram pacificamente acabaram em violência. E, em muitos destes casos, a
confusão começa por parte dos “manifestantes”, que tentam destruir o patrimônio
público, invadir propriedades privadas ou prédios públicos, tentam iniciar
saques ou começam a agredir pessoas e/ou policiais. E, quando a polícia lança
gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, os vândalos começam a posar de
vítimas.
Estas manifestações, como tudo na vida, apresentam
dois lados. Se temos, por um lado, um povo que começa a despertar para cobrar
seus direitos e não mais aceitar o péssimo emprego do seu dinheiro e a
corrupção que grassa no nosso país, temos, por outro, pessoas que querem apenas
se aproveitar da situação para defender interesses particulares ou,
simplesmente, querem apenas provocar violência impunemente.
Estas manifestações são legítimas, mas temos que
tomar cuidado para que os protestos não descambem para a violência pura e
simples e acabem perdendo o seu caráter reivindicatório. O povo tem que acordar
– e não pode voltar a dormir –, mas não precisamos gerar mais violência do que
já temos. E, também, esperamos que essa consciência que despertou não arrefeça,
caso a seleção brasileira seja campeã da Copa das Confederações e/ou da Copa do
Mundo.
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